A segurança nos robôs móveis, sejam eles AGVs (Automated Guided Vehicles) ou AMRs (Autonomous Mobile Robots), é um fator essencial para a sua operação eficiente e segura em ambientes industriais e logísticos. O objetivo dos sistemas de segurança destes robôs é prevenir colisões com pessoas e objetos durante o funcionamento autónomo. Para isso, diferentes tecnologias são implementadas, garantindo uma interação segura entre os robôs e o ambiente ao seu redor.
Legislação Aplicável à Segurança de Robôs Móveis
A segurança dos robôs móveis industriais, incluindo AGVs e AMRs, está sujeita a um quadro legislativo rigoroso, especialmente dentro da União Europeia. A conformidade com as normas e diretrizes é essencial para garantir não apenas a segurança dos operadores e do ambiente de trabalho, mas também a legalidade da sua utilização.
A Diretiva Máquinas 2006/42/CE, transportada para o direito interno português pelo Decreto-Lei 103/2008, estabelece as regras relativas à colocação no mercado e entrada em serviço das máquinas e respetivos acessórios. Esta diretiva estabelece requisitos essenciais de saúde e segurança que devem ser cumpridos, incluindo a obrigatoriedade da marcação CE antes da sua colocação no mercado ou entrada em serviço. |
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A adoção de normas europeias harmonizadas desempenha um papel fundamental, pois permite a presunção de conformidade com as diretivas aplicáveis, desde que os perigos abordados na norma sejam relevantes para o equipamento em questão.
No caso específico dos AGVs e AMRs, a norma EN ISO 3691-4:2023 estabelece diretrizes para a segurança destes sistemas. Esta norma recebeu parecer positivo da Comissão Europeia e foi publicada como norma harmonizada, reforçando o seu reconhecimento e aplicabilidade no setor.
O cumprimento destes regulamentos e normas não só garante a segurança operacional dos robôs móveis, mas também assegura a conformidade legal, evitando riscos e penalizações para as empresas.
Segurança na Instalação
Além dos requisitos aplicáveis aos equipamentos, a instalação e o ambiente operacional dos robôs móveis também devem seguir as diretrizes da EN ISSO 3691-4:2023.
A norma especifica critérios fundamentais de operação, garantindo uma interação segura entre os robôs móveis e os trabalhadores.
Exemplo de requisitos e definições a ter em conta numa instalação:
Definição de zonas de operação:
- Área Confinada: espaço fechado de operação do AGV ou AMR;
- Área de Operação Perigosa: zona operacional onde uma pessoa pode estar exposta a um perigo;
- Área Operacional: espaço definido para atuação do AGV ou AMR;
- Área Pública: área acessível a todas as pessoas, incluindo aquelas sem formação específica ou conhecimento dos riscos associados aos AGVs ou AMRs;
- Área de Acesso Restrito: espaço fechado de operação do AGV, com o acesso de pessoas não autorizado.
- Manuseamento da Carga;
- Estabilidade nas condições de funcionamento;
- Deteção de pessoas na trajetória:
- Condições de reinício da operação;
- Restrições de operação;
- Limitações: existência ou inexistência de vias de evacuação;
- Desativação e seleção de áreas ativas de deteção;
- Proteção em zonas de transferência de carga.
A certificação da instalação é essencial para garantir que a operação dos AGVs ou AMRs ocorre de forma segura, minimizando riscos para trabalhadores e assegurando conformidade com a legislação aplicável.
Requisitos mínimos para a preparação de áreas
A segurança na operação de AGVs e AMRs depende diretamente da correta identificação e adaptação das zonas de operação, conforme definido pela norma EN ISO 3691-4:2023. Esta norma estabelece requisitos mínimos para garantir um ambiente seguro, incluindo limites de velocidade e especificações para o espaço livre necessário. Por exemplo, a área operacional deve possuir um espaço livre mínimo de 0,5 m de largura e 2,1 m de altura em ambos os lados do percurso, medido entre o caminho do AGV e estruturas fixas adjacentes. Já as áreas onde esse espaço livre não pode ser garantido, ou que não podem ser protegidas por meios de deteção de pessoas, são classificadas como "áreas perigosas", devendo ser devidamente sinalizadas.
Nestas zonas, a velocidade do AGV deve seguir os valores definidos nas Tabelas A.1 e A.2 da norma, além de serem exigidos avisos acústicos e/ou óticos adicionais para alertar os trabalhadores e minimizar riscos de acidentes.
Elementos de Segurança dos AGVs ou AMRs
Para garantir a operação segura dos robôs móveis e minimizar riscos para os trabalhadores, os sistemas de segurança devem incluir elementos de comando específicos para a deteção de pessoas e evitar colisões. Estes elementos são projetados para interromper ou reduzir o movimento do robô móvel antes de qualquer impacto significativo, garantindo conformidade com as normas de segurança aplicáveis.
Partes de Comando Relacionadas com a Segurança para Deteção de Pessoas
Os AGVs ou AMRs devem ser equipados com dispositivos que identifiquem a presença de pessoas e objetos no seu trajeto, acionando a paragem ou a redução da velocidade quando necessário.
Entre os principais dispositivos estão:
- Dispositivos sensíveis à pressão, como para-choques de segurança que ativam um sinal de paragem ao detetar contato físico.
- Equipamento de proteção eletrossensível (sem contacto) (ESPE), como scanners a laser (LiDAR), que identificam obstáculos dentro de uma área programada, permitindo paragens antes da colisão.
Para garantir a máxima eficácia, esses dispositivos devem:
- Operar, no mínimo, sobre toda a largura do AGV e da sua carga no sentido da viagem.
- Ser concebidos para que o AGV pare antes do contato entre as partes rígidas do veículo (ou da carga transportada) e uma pessoa de pé.
- Caso a paragem antes do contato não seja possível, o sistema deve garantir que as forças de impacto respeitam os limites definidos no ponto 5.2 da norma EN ISO 3691-4:2023.
Conclusão
Em resumo, a segurança na operação de AGVs e AMRs requer a conformidade com a norma EN ISO 3691-4:2023 e outras regulamentações aplicáveis, garantindo a proteção dos trabalhadores e a eficiência dos processos industriais. Desde a legislação obrigatória, passando pelos elementos de segurança dos robôs, até os requisitos para a instalação e operação, cada detalhe é essencial para minimizar riscos e assegurar um ambiente de trabalho seguro. A correta definição das zonas de operação e a avaliação contínua dos riscos são fundamentais para a prevenção de acidentes. Além disso, a informação clara para os operadores e a adoção de medidas específicas para cada ambiente contribuem para a integração segura desses sistemas nas indústrias. O cumprimento desses requisitos não só promove a segurança, mas também melhora a eficiência e a confiabilidade das operações automatizadas.